A fotografia sempre foi um destino na vida do fotojornalista Jorge Araújo. Nascido em Salvador, mudou-se para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo, onde permanece até hoje. Desde criança, folheava jornais e revistas, buscando compreender o poder das imagens e o que elas queriam dizer. Na adolescência, trocou sua bicicleta por uma câmera fotográfica e, aos 15 anos, determinado a não esperar mais, foi à redação do jornal Última Hora em busca de emprego como jornalista. Iniciou sua carreira no jornal como “boy da redação”, aprendendo gradativamente com os profissionais os quais ele chamava de heróis: “Eu respirava notícia, via aqueles grandes heróis saírem com seus equipamentos e pensava que queria ser como eles”. Foi lá, então, que aprendeu tudo sobre fotografia e pode se aprimorar. Quinze anos depois integrou a equipe do Folha de São Paulo, tornando-se repórter fotográfico especial.
Muito antes de iniciar como fotojornalista, Jorge estabeleceu duas metas para sua vida: cobrir uma Copa do Mundo e receber o prêmio Esso. Ambas foram alcançadas com sucesso. Em 1978, cobriu a Copa do Mundo na Argentina e, no ano seguinte, foi prestigiado com o Prêmio Esso pela foto intitulada "Anistia".
“Em São Paulo, como em muitos estados do Brasil, estava acontecendo o Movimento Pela Anistia. Mais de 100 mil pessoas estavam reunidas na Praça da Sé, onde estava sendo votado no Congresso Nacional o projeto pela lei de anistia. Então, fui para lá com meu equipamento todo preparado e fiquei fotografando. Quase à noite, eu já tinha feito todas as fotos e fui de encontro ao motoboy da redação, que ia receber os filmes que eu tinha e enviar para revelar.
Eu já estava na escadaria da Praça da Sé, distante da multidão e, enquanto estou entregando os filmes para o motoboy, uma faixa do sindicato dos publicitários me chamou a atenção. Parece que foi uma questão de sorte, de sentir o valor da fotografia no momento certo. Simplesmente, jogaram uma pomba branca e ela pousou na faixa.
Analisei aquele cenário. A Praça da Sé cheia de pessoas protestando, a faixa, a pomba branca como símbolo de paz, e pensei que aquela poderia ser a imagem perfeita para definir aquele momento. Ali existia um discurso, afinal, aquela imagem dizia muito mais do que qualquer palavra.
Fotografei aquela cena e pedi ao motoboy que esquecesse os filmes anteriores e priorizasse o que eu tinha acabado de entregar. No dia seguinte, essa foto era assunto geral, ela “viralizou”, não como hoje, mas todas as emissoras de rádio e tv comentavam muito, pois ela era a síntese daquele momento. Eu fiquei assustado com a repercussão, mas orgulhoso. No momento em que fotografei aquele cenário, percebi que eu havia escrito história com luz”.
Receber um Prêmio Esso trouxe significado profissional e responsabilidades maiores. Ao ser premiado, as expectativas das pessoas aumentaram, vendo-o como o melhor e mais qualificado para os trabalhos, mas a realidade não corresponde a essa expectativa. Embora Jorge tenha considerado a foto “Anistia” uma boa imagem, ele acredita que em cada trabalho há a possibilidade de capturar sua melhor foto, sem pressão ou limitações.
Com mais de 40 anos de experiência, Jorge registrou cinco Copas do Mundo e quatro Olimpíadas. Acompanhou de perto a política nacional, cobrindo todo o processo político brasileiro, desde o Movimento Diretas Já, bem como a política internacional. Além disso, atuou em diversas áreas, como meio ambiente, política e esportes, visitando mais de 72 países ao longo de sua carreira.
O Fotos Públicas
Para um profissional que acredita não haver nada que se compare à emoção de estar nos lugares e presenciar um fato que está em evidência para tantas pessoas, o Fotos Públicas trouxe um novo significado para a sua carreira.
Há quinze anos participando do projeto, o repórter fotográfico destaca a relevância de um portal que disponibilize fotos de domínio público de forma acessível. Jorge enfatiza que isso representa um facilitador e uma democratização da imagem, uma vez que todas as fotos são públicas e capturadas por profissionais em locais de grande interesse público. Para ele, o Fotos Públicas é um reflexo do amor pelo fotojornalismo e a nova fase é um avanço significativo para todos que irão usufruir do site.
Para aquele que um dia foi um menino obstinado e apaixonado pela fotografia, suas inspirações continuam as mesmas. “Sobre o fotojornalismo, eu faria tudo novamente e não faria mais nada na vida. A respeito do Fotos Públicas, tudo o que tenho de experiência com relação a esse portal é saber o que ele foi, é e será”.
Fotojornalista: Jorge Araújo
Instagram: seujorgearaujo
Escrito por Eduarda Ferreira