Fotos Públicas

O Olhar de Lucas: uma nova perspectiva no Fluminense

Eduarda Ferreira
O Olhar de Lucas: uma nova perspectiva no Fluminense

Quem nunca ficou em dúvida sobre qual profissão seguir? Algumas pessoas encontram seu caminho rapidamente, enquanto outras levam mais tempo para se decidir. Esse foi o caso de Lucas Merçon, que hoje é um dos fotógrafos oficiais do Fluminense, um dos clubes mais tradicionais do Rio de Janeiro. Mas antes de chegarmos a essa parte, vamos voltar alguns anos.

Lucas cresceu em Niterói, onde desenvolveu uma paixão pela cidade e orgulho de suas raízes. Desde cedo, valorizou os artistas locais e sonhou em ver Niterói em destaque. Embora tenha pensado em se mudar para o Rio de Janeiro por questões profissionais, ele sempre manteve um forte vínculo com sua cidade natal, que considera um berço de talentos. 

Sua trajetória não começou com uma câmera nas mãos; antes de descobrir a fotografia, ele passou por outras experiências, na busca pela verdadeira vocação.

"Foi um processo de me encontrar. Quando saí do colégio, não sabia que poderia ser um fotógrafo esportivo, cobrir grandes eventos ou atuar em outras vertentes. Estava muito direcionado a seguir Direito, Medicina ou Engenharia. Não tinha ideia de que a fotografia poderia ser uma profissão. Fui me descobrindo aos trancos e barrancos, mas finalmente me encontrei”, conta.

Lucas iniciou sua jornada acadêmica em 2005, no curso de Direito, influenciado pelo ambiente familiar, composto de advogados. Apesar de chegar até a metade da graduação, percebeu que aquele não era seu lugar. Em 2010, decidido a trilhar seu próprio caminho, trocou o curso de Direito pelo de Comunicação, com o objetivo de se tornar comentarista esportivo. No entanto, após sua primeira experiência em rádio, percebeu que não era ali que se destacaria.

"Na primeira aula de rádio, percebi que eu era um desastre e logo vi que precisava me encontrar em outra vertente dentro da comunicação. Não fazia sentido continuar insistindo naquilo", comenta Lucas.

A verdadeira paixão de Lucas pela fotografia surgiu quase por acaso, durante uma aula de fotojornalismo. Seu interesse cresceu rapidamente, a ponto de ele trocar o curso de Jornalismo por uma formação específica em fotografia, onde finalmente se sentiu em casa. Esse foi o início de uma trajetória que mudaria sua vida.

A história na fotografia começou de forma despretensiosa e gradativa. Nas noites em que andava de skate com amigos pelas pistas do Rio e de Niterói, Lucas usava a câmera do irmão para registrar as manobras. O que começou como uma brincadeira logo se transformou em um sonho sério, e seus amigos, impressionados com sua dedicação, até custearam um curso para ele em São Paulo, incentivando-o a seguir seu sonho.

Lucas acreditava que a fotografia poderia ser o caminho para realizar um dos seus maiores desejos: conhecer o mundo. Naquela época, ele nunca havia saído de Niterói, mas já via a fotografia como uma forma de explorar novos lugares – o que, com o tempo, se tornaria realidade.

A primeira oportunidade profissional de Lucas Merçon não teve relação com o esporte, mas sim com a banda de rap Oriente, de Niterói. Lucas não apenas fotografava, mas também contribuía para o marketing, o que se tornou uma experiência transformadora, comparada a uma "faculdade prática" em um ambiente descontraído. Ele viajou pelo país com a banda, mesmo sem o equipamento que possui hoje. Na época, havia poucos fotógrafos no cenário do rap, e Lucas aproveitou essa oportunidade para fazer novas conexões, fotografando outras bandas, eventos e festivais.


Chegada ao Fluminense: um novo capítulo


A entrada de Lucas no Fluminense aconteceu de forma inesperada. Durante uma campanha presidencial do clube, um amigo o convidou para substituir equipes que já haviam sido dispensadas, e ele, sem hesitar, aceitou a responsabilidade. Junto com Marcelo, um amigo de longa data e colega da faculdade de fotografia, formaram uma equipe que entregou com sucesso o trabalho.

Em 2017, Lucas foi contratado oficialmente pelo clube, após o fotógrafo titular sofrer um acidente. Nesse período, teve a chance de trabalhar com Nelson Perez, um profissional reconhecido no esporte que se tornou seu mentor. Nelson o acolheu generosamente, ensinando não apenas técnicas de fotografia, mas também a importância da dedicação e paixão pelo trabalho. A influência de Nelson permanece viva em Lucas, que ainda se inspira em seu mentor e planeja homenageá-lo em futuros projetos.

Essa amizade e gratidão se fortaleceram com o tempo, especialmente durante a conquista da Libertadores, quando Lucas dedicou seu trabalho à memória de Perez, que faleceu em outubro de 2023, em decorrência de um câncer.

"Não quero orgulhar apenas a minha família; quero também honrar o Nelson. Preciso fazer jus aos amigos que investiram em mim. Assim, tenho que me esforçar para orgulhar a todos eles. Meu clique nunca será apenas meu; sempre terá muitas referências que me acompanham."

Ao longo dos anos fazendo a cobertura fotográfica do Fluminense, Lucas Merçon compartilha qual foi o momento mais marcante e a foto que mais impactou seu trabalho no esporte:

"O momento mais especial com certeza foi a vitória da Libertadores do Fluminense. Poder registrar um momento tão único, tanto para o clube quanto para mim, foi inesquecível. Eu também fui torcedor e estive em 2008, na arquibancada, quando o Fluminense perdeu a final no Maracanã. Aquilo foi muito doloroso para todos que torciam e trabalhavam no clube.

Ganhar esse campeonato no final do ano passado foi extremamente emocionante. Foi um marco para minha carreira, para o Lucas criança que ainda vive em mim, e para minha família, que não é tricolor, mas estava torcendo. Sem dúvida, foi um momento ímpar.

A foto mais icônica, até pela história, foi a do jogo ‘Fluminense contra Cruzeiro’ no Mineirão, em Minas Gerais, nas quartas de final. Se não me engano, foi um mata-mata que precisávamos vencer. O primeiro jogo foi um empate no Maracanã, e fomos para Belo Horizonte precisando da vitória. Estava lá quando o jogo estava 3 a 2. No último minuto, um jogador cruza a bola.

João Pedro, que hoje joga no Brighton, na Inglaterra, tinha apenas 17 ou 18 anos e marcou um gol de bicicleta no último minuto da partida. Foi difícil conter o torcedor que havia dentro de mim. A emoção foi enorme, um daqueles momentos que marcam a vida. Naquele instante, eu já estava me preparando para desmontar tudo e seguir em frente, pois normalmente voltamos logo após o jogo e a correria é intensa.

Mas pensei: "Vou tirar a Teleobjetiva deixar a 70-200 na mão." Essa câmera, com essa lente, me ajuda bastante. Então, fiquei com a 70-200, pensando que já estava quase tudo guardado, mas que iria registrar o que acontecesse. A parte técnica é desafiadora, mas já temos uma noção de como funciona. A iluminação do estádio não muda muito durante o jogo, então, a menos que você queira uma foto mais artística, as configurações ficam praticamente as mesmas. Normalmente, ajusto tudo antes do jogo, durante o aquecimento.

A diferença, nesse caso, foi que eu estava concentrado no jogo, mesmo sabendo que meu time poderia ser eliminado e que as fotos não teriam grande impacto. Mas, houve um momento surpreendente que realmente valeu a pena. Isso impactou a minha carreira, já que capturei uma imagem que ninguém mais tinha, porque todos os fotógrafos já tinham desmontado seus equipamentos. No dia seguinte, apesar da derrota do time, o gol foi eleito o mais bonito do campeonato, e houve toda uma premiação, com quadros e homenagens."

A jornada de Lucas Merçon na fotografia demonstra que os caminhos nem sempre são os que planejamos. Sua paixão pela profissão, pela vida e sua gratidão por todos que o apoiaram na construção de sua carreira revelam que, quando algo é destinado a acontecer, sempre encontra um jeito de chegar até nós.


Escrito por Eduarda Ferreira

Imagem: Lucas Merçon | Instagram: lucasmerconphotos