O fotojornalista Sergio Moraes percorreu uma carreira marcada por momentos icônicos e históricos no Brasil e no mundo. Natural do Rio de Janeiro, passou a adolescência em São Paulo, onde teve a sua primeira experiência profissional com a fotografia. Filho de um fotojornalista, apesar das influências nem sempre serem fatores determinantes na escolha de uma carreira, isso tudo não poderia ter mais relevância na escolha de profissão de Sergio.
Aos 17 anos, trabalhou em um estúdio como assistente fotográfico, tendo experiências em editoriais de moda e publicidade. Não demorou muito para que começasse a fotografar, mesmo que em testes de cenário. "Eu queria fazer fotojornalismo na prática. Cobrir esportes, rua e diversificar em outras pautas para aprender, instigar o meu olhar fotográfico para criar um portfólio", comenta Sergio Moraes, sobre o período em que esteve atuando como freelancer na Revista Veja, em 1982, pouco tempo depois do seu primeiro contato com a fotografia.
Ao longo dos anos, passou por diversos veículos, com ênfase aos 24 anos em que trabalhou na Agência Reuters. Lá, destacou-se principalmente em pautas de esporte, com grandes coberturas nas olimpíadas, copas e outros eventos importantes. Ainda assim, a flexibilidade para outras pautas era presente em coberturas de encontros de cúpula, viagens presidenciais e Mercosul.
Entre tantos momentos marcantes na carreira, Sergio considera que o mais relevante tenha sido quando acompanhou a Copa de 1994: "Naquele momento eu pensava não precisar de mais nada, pois eu tinha alcançado a minha meta. Depois eu fui buscando e querendo outras realizações, claro, mas, naquele momento aquilo já bastava". Gradativamente conquistou o reconhecimento no fotojornalismo, registrando momentos impactantes que transcenderam as páginas dos jornais. Um desses momentos rendeu alcance nacional, quando aconteceu a rebelião no complexo penitenciário Bangu 1.
"Existe uma foto que me marcou muito. Foi em 2002, na rebelião organizada pelos traficantes Chapolin e Fernandinho Beira-Mar, no presídio de segurança máxima Bangu 1. A cobertura durou três dias. No dia anterior à rebelião, quando tudo estava isolado, fui ao local. Naquela época, era possível circular no complexo de presídios. Cheguei quando os detentos estavam posicionados em um canto da quadra, inicialmente pensando que não havia muito a capturar. Ao contornar o muro, percebi a profundidade e algumas frestas e deixei minha câmera posicionada.
Em 2002, começaram a utilizar celulares para rotear e transmitir imagens, nem sonhávamos em ter o 3G ainda. Todo mundo dizia que na área do presídio havia bloqueadores de sinal, mas eu decidi arriscar. Fotografei helicópteros e muita fumaça, apenas para registrar a situação, que era mais impactante do que a imagem mostrava. Curiosamente, mesmo com os boatos sobre bloqueio de sinal, foi a foto mais rápida que enviei na vida, sem bloqueio algum na área.
No dia seguinte, retornei cedo, repetindo a estratégia. Quase ninguém estava prestando atenção nos meus movimentos e isso foi bom, porque ao encaixar a câmera em uma fresta, vi o Fernandinho Beira-Mar bem de frente para a câmera. Comecei a tirar inúmeras fotos dele interagindo com outros detentos, gargalhando e coçando a barriga, com ar de deboche diante de toda a situação que se desenrolava há dias. O engraçado é que alguns policiais chegaram e estavam tentando nos afastar, como eu já havia conseguido aquele furo, ainda dei apoio e falei “é isso aí, gente, não tem nada aqui para a gente, melhor irmos embora mesmo”. Essa foto foi finalista do Prêmio Esso, estampou capas de jornais e foi destaque no Fantástico e Jornal Nacional, e é muito gratificante ter uma foto que conta a parte da história de um momento impactante”.
Sérgio Moraes: filho, pai, irmão e tio de fotógrafos, mantém-se dedicado à fotografia, considerando-a sua verdadeira arte e meio de expressão. Afinal, a lente é sua guia.
Fotojornalista: Sergio Moraes
Instagram: https://www.instagram.com/sergio.moraes62/
Escrito por Eduarda Ferreira