Fotos Públicas

Por Trás das Lentes do Fotojornalista Marco Terranova

Lais Lobo
Por Trás das Lentes do Fotojornalista Marco Terranova

Domingo, 31 de janeiro de 1999 - Leblon, Rio de Janeiro. 

 

Ao som dos tiros e, em segundo plano, o desespero da população na Avenida Delfim Moreira, não havia nada que o parasse naquele momento. “Chapa 21, chapa 22, chapa 23, 25, 30”, contava mentalmente o fotojornalista Marco Terranova, enquanto corria, ofegante, com a sua Canon EOS-1N nas mãos. Durante 15 minutos acompanhou a troca de tiros entre policiais e ladrões, que haviam assaltado um restaurante em Copacabana.  

 

“Foi um dia muito especial. Começou às 7h daquele domingo e eu estava cobrindo algumas pautas, porque eu fazia muita revista de domingo, capas e cadernos de cultura. Iniciei a manhã fotografando o rapper e produtor musical americano, Afrika Bambaataa, na orla de Copacabana. Depois, fui acompanhar o campeonato de vôlei de praia, o "King Of The Beach", no Jardim de Alah, que divide os bairros de Ipanema e Leblon. 

 

Estava terminando de fotografar, já tinha feito tudo o que eu precisava, e eu saí da arena para fazer uma pergunta para a assessora de imprensa, na cabine. E, nesse momento, eu vi que o meu filme estava na chapa 34, portanto, resolvi trocá-lo. Quando verifiquei se o filme estava correto dentro da câmera, de repente, comecei a ouvir tiros do lado de fora. Eu estava muito perto da porta e eu fui o único fotógrafo que chegou. Porque, no momento em que eu dei dois passos, eu já estava do lado de fora da arena, eu estava muito perto da saída, há uns 3 metros. Assim que eu saí, fui procurar o que estava acontecendo e já visualizei as pessoas deitadas no chão, todas desesperadas, com muito medo. Eram muitos tiros. E aí eu entendi onde eu estava e o que estava acontecendo. Iniciei o registro, tirava fotos sem parar, até que os ladrões e os policiais passaram por mim, trocando tiros. Comecei a correr e fotografar ao mesmo tempo, contando na cabeça "chapa 21, chapa 22, chapa 23, 25, 30", e foi quando eu vi a cena que gerou a foto premiada pelo Esso. Eu corri um pouco mais e, na minha cabeça, um anjinho falou para eu fotografar, porque no dia seguinte iria ‘levantar’. 

 

Aquela cena é bem emblemática, cria um ar dramático e muitas pessoas perguntam se existia um bebê naquele carrinho. Enfim, a chapa 30, 31, 32, 33, 34, 35 e 36 são a sequência final daquela imagem que ganhou o Prêmio Esso”, conta Terranova sobre a imagem “Domingo de Pavor”.

 

Trajetória Profissional 

Nascido no Rio de Janeiro, Marco Terranova cresceu em um ambiente artístico. A mãe, bailarina, e o pai, negociante de arte, não se opuseram à decisão de se tornar fotógrafo. Aos 14 anos, teve a primeira experiência fotográfica e, desde então, trabalhou em projetos pessoais, em áreas cinematográficas, ambientais e documentais, incluindo registros nos subúrbios do Rio de Janeiro e no cotidiano de garotas de programa. 

Em 1995, aos 29 anos, teve a oportunidade de realizar um de seus muitos sonhos, apesar da longa bagagem profissional: trabalhar no Jornal do Brasil.

“Meu sonho de vida era trabalhar em um grande jornal, porque seria a minha oportunidade de fechar um ciclo de formação, de aprendizado [...], tudo aquilo que eu não tinha como fotógrafo, grande parte veio do jornal, portanto essa realmente foi minha grande oportunidade para evoluir profissionalmente”, comenta.  

Em 1999, ano em que recebeu o Prêmio Esso de Fotografia, Terranova encerrou sua trajetória no Jornal do Brasil. Essa conquista marcante coincidiu com o término de seu período no jornal, abrindo caminho para novos projetos pessoais. 

Quanto ao Prêmio, Marco destaca seu agradecimento aos ex-colegas de profissão, Alaor Filho e Jorge Odilar, com os quais compartilhou diversos momentos no Jornal do Brasil. São eles os responsáveis pela inscrição de sua foto para concorrer ao Prêmio Esso.  

“Eu não estaria contando essa história e não teria vencido o prêmio, se eu não tivesse um amigo que lembrou da minha fotografia e um outro amigo, que inscreveu a minha foto. Certamente eu teria perdido a oportunidade, gostaria de mencioná-los e agradecer por isso. Se a gente não puder homenagear as pessoas em vida, não tem graça”, ressalta Marco Terranova. 

 

Abrolhos 

A paixão de Marcos Terranova por suas inspirações de vida é um sentimento palpável, e não se limita apenas à fotografia; a vela também é uma de suas paixões de infância. 

Em 1984, aos 18 anos, ele abandonou a graduação em Comunicação Social para velejar pela costa do Brasil. Foi durante essa experiência solitária e de autoconhecimento que, pela primeira vez, ele esteve em Abrolhos, um arquipélago costeiro localizado cerca de 65 quilômetros do litoral sul da Bahia. Nessa ocasião, vivenciou um dos momentos mais indescritíveis de sua vida: ver e fotografar baleias jubarte. Retornou a Abrolhos pela segunda vez em 1996, desta vez pelo Jornal do Brasil. Até hoje, Terranova visita o arquipélago anualmente e já publicou quatro livros autorais, sendo um deles sobre o arquipélago oceânico e as baleias jubarte. Além disso, participou como coautor em mais de 20 projetos literários. 

“A fotografia, de certa maneira, fez a minha conexão com o mundo real, porque ela faz isso com a gente, né? Ela nos transporta para lugares, ambientes e convívio de pessoas; todo tipo de experiência de vida que a gente não tem quando estamos em nossa zona de conforto. Então, a fotografia foi o caminho que eu encontrei para poder viver situações que a minha vida pessoal me protegeu, não me permitiu vivenciar”, conclui o fotógrafo.  

Em breve, a coleção de fotos do fotógrafo Marco Terranova, na sua expedição em Abrolhos, estará disponível no Fotos Públicas.

 
Fotojornalista: Marco Terra Nova
Instagram: www.instagram.com/conexaoterranova

Escrito por Eduarda Ferreira.